Entre o período de 11 de outubro de 2012 e 24 de novembro de
2013 a Igreja, em todo o mundo, estará vivendo o ano da fé. Com certeza muito
se falará a respeito, mas, mesmo antes do seu início esse assunto nos movimenta
e partilho com vocês uma breve e simples reflexão sobre a fé professada e a fé
vivida.
O que é fé? Podemos dizer que a fé exprime uma certeza, uma confiança, uma
aceitação como algo real. Para o cristão é a aceitação da pessoa de Jesus
Cristo com a consequência lógica desta aceitação.
A definição bíblica de fé¹ encontramos em Hb 11, 1 onde
lemos que “A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que
não se vê”, ou seja, se eu vejo, se eu comprovo não há necessidade da fé.
A teologia católica define fé, de acordo com são Tomaz de Aquino, como
sendo o ato do intelecto que assente (ato de quem consente) à
verdade divina, sob a influência da vontade movida por Deus mediante a
graça.
Nos evangelhos sinóticos, a fé é tida como a própria aceitação de Jesus
como sendo aquilo que Ele proclama ser, Filho de Deus, Mestre, Bom Pastor,
Salvador, etc. e, em função desta aceitação procurar viver como Ele viveu e
ensinou. A fé cristã também se traduz em obediência.
Ao longo da história Deus foi se revelando e em Jesus, Deus
se revelou por inteiro (Conf. Dei Verbum, sobre a revelação divina). Apesar da
revelação já ter sido concluída em Jesus, isso não significa que nós já a
conheçamos e a compreendamos por inteiro, por isso Jesus mesmo disse que o
Espírito Santo nos revelaria todas as coisas, nos recordaria todas as coisas.
Este decifrar da revelação divina está a cargo do Magistério da Igreja, mas a
sua difusão é incumbência de todo batizado. Jesus escolheu algumas pessoas para
darem prosseguimento a sua missão. Essas pessoas foram os seus apóstolos e
discípulos que também foram escolhendo outros para continuar a missão que
haviam recebido de Jesus. Isso foi acontecendo até chegar a nós. Hoje nós somos
esse povo responsável por propagar a boa nova.
Ao longo dos últimos 20 séculos a Igreja, auxiliada pelo Espírito Santo, foi
decifrando esta revelação que tem a sua essência resumida na oração do “Creio”.
Na oração do “creio” nós dizemos que, mesmo não o vendo, cremos que existe um
Deus que é Uno e Trino, que é Pai, é Filho e é Espírito Santo. Dizemos que
cremos em coisas que já aconteceram, como toda a criação ou a morte de Jesus,
mas também dizemos que cremos em coisas que ainda virão, mesmo sem sabermos
quando nem como.
Confessar o que cremos é muito importante, porém nossa fé precisa ir além do
que falamos. Nossa fé precisa ser vivida, ou seja, uma fé professada e
vivida. Nossa fé deve gerar em nós uma rendição e aceitação total a uma
pessoa, Jesus.
Como eu vivo a minha fé?
Se eu digo que creio em Deus que é Pai, devo agir como filho. Como creio
que Deus é Bom, devo agir como um bom filho.
Da mesma forma se digo que creio em Jesus, devo procurar segui-Lo,
imitá-Lo.
Vale o mesmo para o Espírito Santo. Se digo que creio Nele devo me deixar
ser conduzir por Ele.
Quando digo que creio na Igreja Católica idem e quando falo que creio
na ressurreição dos mortos e na vida eterna, devo procurar viver pensando
alcançar uma vida eterna em Deus e não uma vida eterna sem Deus.
Em palavras isso até parece fácil, mas será que na prática é simples assim?
Quando Tiago fala que a fé sem obras é morta (cf. Tg 2,
17.26) ele não está dizendo que as obras é que nos salvarão. O próprio Paulo
alerta que as obras da lei não tem valor salvífico para os batizados (cf. Rm 3,
20.28; Gl 2,16; 3, 2.10). Somente as obras são incapazes de salvar o batizado,
porém a fé e as obras são indispensáveis para a sua salvação (cf. 1Ts 1, 3).
Quem nos salva é Jesus, mediante a nossa fé vivida no dia a dia.
Como transformar a minha fé em obra?
• Confiando em Deus
• Obedecendo a seus mandamentos
• Fazendo as obras de misericórdia² que são:
1-dar de comer a quem tem fome;
2-dar de beber a quem tem sede;
3-vestir os nus;
4-visitar os doentes;
5-visitar os presos;
6-acolher os peregrinos;
7-enterrar os mortos.
Obras de Misericórdia Espirituais
1-dar bom conselho;
2-corrigir os que erram;
3-ensinar os ignorantes;
4-suportar com paciência as fraquezas do próximo;
5-consolar os aflitos;
6-perdoar os que nos ofenderam;
7-rezar pelos vivos e pelos mortos.
Isso tudo, porém terá valor verdadeiro para nós
se fizermos por amor a Deus. Se a fé sem obras é morta, as obras sem a fé
são apenas obras. É claro que para aquele que é objeto da obra de fé, a obra
feita sem amor a Deus servirá, mas que valor terá a obra ao que a faz se não a
fizer com fé e por amor a Deus?
Peçamos ao Senhor que venha em socorro a nossa fé que, muitas vezes é fraca e
vacila. Que nossa fé professada possa ser também vivida. Peçamos ao Senhor que
cure nossos corações do desejo de comprovar tudo, de entender tudo, de saber
tudo... Afinal, aquilo que é desvendado não é mais objeto de fé.
¹ consulta realizada em MCKENZIE, John L.
Dicionário Bíblico. 9ª edição. São Paulo. Paulus, 2005
² sobre obras de misericórdia acessado http://blog.cancaonova.com/padreantonioaguiar/2007/06/10/obras-de-misericordia/
em 28-05-2012
Sergio Henrique Speri
Coordenador do Conselho Editorial da RCC Brasil
Coordenador do Conselho Editorial da RCC Brasil
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