Tudo
passa, só Deus não passa (cf. Mc 13, 31).
De
uma forma superficial e despretensiosa podemos dizer que a humanidade passou
por diferentes movimentos rumo ao sagrado.
As
ciências nos auxiliam neste sentido ao colocar às claras – dentro do seu possível – que as civilizações antigas
buscavam o sagrado e comprovam isso a partir das descobertas que fazem nos
diversos sítios arqueológicos espalhados pelos continentes.
As
grandes civilizações da antiguidade – Egípcia, Romana, Grega, entre outras –
demonstram claramente a sua relação com o Sagrado, uma relação marcada pelo
medo de punição e pelas oferendas como forma de abrandar o mau humor da
divindade ou como forma de escambo.
Ao
escolher um povo para se revelar como o Único Deus e, posteriormente
revelando-se Uno e Trino, inaugura-se uma nova fase na relação entre o homem e
o Sagrado, especialmente após a Revelação plena em Jesus. Inaugura-se então uma
relação baseada, especialmente no amor gratuito.
Se
num primeiro momento o Deus Verdadeiro era um ilustre desconhecido, após anos
da história, Deus era conhecido e amado em grande parte da humanidade
conhecida, ainda que em alguns casos a relação com Ele assemelhava-se com as
formas descritas anteriormente.
Especialmente
entre os “mais cultos”, com o advento do Iluminismo, cresceu o ateísmo, onde
era “moda” negar a existência de Deus. Esse movimento foi sucedido por outro
onde não se negava a existência de Deus, mas simplesmente não se dava a
importância a Ele.
De certa forma, a sociedade atual vive todos
estes – e outros – movimentos e relacionamentos com o sagrado. A questão,
porém, é como eu e você, como nós temos nos relacionados com o sagrado, é essa
a reflexão que proponho aqui. Este nós é composto por leigos e clero,
infelizmente podemos, neste caso, estar todos no “mesmo barco”.
Somos
“católicos praticantes”, buscamos cumprir os preceitos, participamos das missas
aos domingos – alguns até mais que isso – nos confessamos com certa regularidade
e até participamos de algum(s) movimento(s) ou pastoral(is). Isso é
maravilhoso, afinal somos o Povo de Deus.
Poderíamos
aqui refletir como se dá a nossa relação com o sagrado nestes momentos aqui
mencionados, mas a questão aqui a ser refletida é a de como nos portamos no intervalo entre uma
missa e outra ou entre uma reunião e outra.
Muitas
vezes parece que entre uma missa e outra, ou seja, entre o espaço de uma semana
– na maioria dos casos – nos esquecemos que somos cristãos. Parece que a
“obrigatoriedade” de amar se restringe àquele momento apenas.
Não
se trata aqui de puritanismo ou moralismo e não é meu desejo apontar para os
deslizes de ninguém, mas convido você a refletir sobre a sua pessoa, sobre a
sua ação enquanto filho muito amado de Deus, templo do Espirito Santo.
Onde
está a gratuidade em nossas ações? Não estamos fazendo só em função de uma
recompensa pelo feito ou de receio de possíveis represálias do próprio Deus ou
mesmo do clero ou dos “irmãos” de comunidade?
E a
gratidão? Não somos mais gratos àqueles que com seu esforço nos servem. Afinal,
pensamos nós, fazem por obrigação. Cabe aqui uma profunda reflexão interior e
pessoal aos diversos níveis de coordenação e por boa parte do clero que se
relacionam com os seus “subordinados” de uma forma como se fossem seus
empregados, pior que isso, seus escravos, ainda que muitas vezes nem uns, nem
outros mereceriam o tratamento que lhes é dispensado.
Você,
que continua a fazer esta reflexão, deve estar imaginando que há outras
questões, talvez até mesmo mais importantes a serem refletidas como, por
exemplo, a infidelidade conjugal; a desvalorização da vida; a busca do sucesso
não importando se, para consegui-lo, “passamos por cima de outros”; a vida não
celibatária; o desvio de dinheiro público, privado e, até mesmo, o religioso;
etc. É verdade há muitas outras questões, mas não há a pretensão de tanto em um
único artigo. Mas há espaço sim para você continuar a sua própria reflexão.
Talvez
nossas Igrejas não estejam mais cheias porque não temos dado, entre os
intervalos dominicais, o testemunho que precisamos dar.
Estaríamos
nós vivendo um tempo do Deus dominical?
*texto inspirado a partir da
leitura do capítulo 9 “A lição da história recente”, do livro “Memória e
Identidade” de João Paulo II, editora Objetiva.
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